Fernando Pessoa - poemas
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Álvaro de Campos

Bicarbonato de Soda

     Súbita, uma angústia...
     Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma!
     Que amigos que tenho tido!
     Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido!
     Que esterco metafísico os meus prpósitos todos!

     Uma angústia, 
     Uma desconsolação da epiderme da alma, 
     Um deixar cair os braços ao sol-pôr do esforço...
     Renego.
     Renego tudo.
     Renego mais do que tudo.
     Renego a gládio e fim todos os Deuses e a negação deles.
     Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me no estômago e na
      circulação do sangue?
     Que atordoamento vazio me esfalfa no cérebro?

     Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
     Não: vou existir.  Arre!  Vou existir.
     E-xis-tir...
     E--xis--tir ...

     Meu Deus!  Que budismo me esfria no sangue!
     Renunciar de portas todas abertas,
     Perante a paisagem todas as paisagens,

     Sem esperança, em liberdade,
     Sem nexo,
     Acidente da inconseqüência da superfície das coisas,
     Monótono mas dorminhoco,
     E que brisas quando as portas e as janelas estão todas abertas!
     Que verão agradável dos outros!

     Dêem-me de beber, que não tenho sede!


  • Bocas roxas de vinho, Ricardo Reis
  • Bóiam farrapos de sombra, Poesias Coligadas
  • Bóiam leves, desatentos, Cancioneiro
  • Braços cruzados, fita além do mar, Mensagem - O Encoberto 
  • Braços cruzados, sem pensar nem crer, Cancioneiro 

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