muito
O combóio desliza ruidosamente na planície
gelada.
Sei que é tarde. Já há muito
que é tarde.
Luzes são raras e efémeras, só
a lua persiste.
Um travo de carvão impregna o compartimento.
Acomodado antecipo mais uma fronteira.
Junto ao peito sinto o conforto de duas pátrias.
Muito distantes. Sempre muito amadas.
Um bolso contém os valores da memória
e do porvir.
Um passaporte da cor dos vinhos da Estremadura.
Uma foto que condensa a energia do teu ser.
Incessantemente sem chegar e sem partir.
Em trânsito. Há muito tempo em trânsito.
E tu, onde caminhas? Moscovo? Baku? Tbilisi?
Este combóio viaja entre pátrias alheias.
Mas no meu âmago a distância não
vive.
M.Daedalus
|