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Fernando Pessoa

Atravessa esta paisagem o meu sonho


 
Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito
E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios
Que largam do cais arrastando nas águas por sombra
Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...

O porto que sonho é sombrio e pálido
E esta paisagem é cheia de sol deste lado...
Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio
E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol...

Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...
O vulto do cais é a estrada nítida e calma
Que se levanta e se  ergue como um muro,
E os navios passam por dentro dos troncos das árvores
Com uma horizontalidade vertical,
E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro...

Não sei quem me sonho...
Súbito toda a água do mar do porto é transparente
E vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse 
      desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvore, estrada a arder em aquele
      porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma...
 


  • Assim, sem nada feito e o por fazer, Cancioneiro 
  • As tuas mãos terminam em segredo, Cancioneiro 
  • Às vezes, em dias de luz perfeita e exata, Alberto Caeiro 
  • Às vezes entre a tormenta, Cancioneiro 
  • Às vezes tenho idéias felizes, Álvaro de Campos
  • Atrás não torna, nem, como Orfeu, volve, Ricardo Reis 
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