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Fernando Pessoa


Não quero ir onde não há a luz

 
NÃO QUERO IR onde não há a luz,
Do outro lado abóbada do solo,
Ínfera imensa cripta, não mais ver
As flores, nem o curso ao sol de rios,
Nem onde as estações que se sucedem
Mudam no campo o campo.  Ali, no escuro,
Só sombras múrmuras, êxuis de tudo,
Salvo da saudade, eternas moram;
Região aos mesmo íncolas incógnita,
Dos naturais, se os tem, desconhecida.
Ali talvez só lírios cor de cinza

Surgirão pálidos da noite imota.
Ali talvez só pelo som as águas,
Como a cegos, serão, e o surdo curso,
No côncavo sossego lamentoso,
Se acaso à vista habituada aclare,
Será como um cinzento tédio externo.

Não quero o pátrio sol de toda a terra
Deixar atrás, descendo, passo a passo,
A escadaria cujos degraus são 
Sucessivos aumentos de negrume,
Até ao extremo solo e noite inteira.

Para que vim a esta clara vida?
Para que vim, se um dia hei de cair
De haste dela? Para que no solo
Se abre o poço da ida? Por que não
Será sem fim[?...]


 
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