primavera negra
Serenamente Abril encontra-nos de novo.
O tempo move-se numa era pós-pós-quase-tudo:
Auckland tem sonhos de golfinhos cor-de-rosa,
Petropavlosk começa a fundir o Inverno,
Nos arredores de Lhasa alimentam-se ritualmente os
abutres,
Fogo de artifício preenche o firmamento de
Rawalpindi,
Em Köningsberg mais um dia se extingue,
Reykjavik desfruta da tranquilidade de um café
Lisboa comemora um velho golpe de estado.
Contudo uma maléfica tempestade fermenta.
Fantoches representam num sinistro teatro de sombras.
Cães raivosos são lançados com
uma fanfarra.
O Atlântico Norte transforma-se num lago de
escuridão,
Soprando uma Primavera negra sobre Belgrado.
Uma nação luta por um continente.
Mil aviões poluem um céu sagrado.
Um ancião brande o punho aos mísseis.
Notas explodem numa rapsódia criminosa.
Pontes destruídas, monumentos ao entretenimento
global,
Petróleo e ultraje fluem com o Danúbio.
Colunas de fumo são barras de aço no
horizonte.
Sirenes transformadas em canções de
embalar.
Flores de cerejeira varrem as crateras das bombas.
Resistindo com inquebrável tenacidade,
A Europa está a ser violada pelo rufião
americano.
Arrogância, violência, o sustento de vândalos.
A civilização sobrevive em abrigos subterrâneos,
O espírito do príncipe Lazar exige reencarnação,
Invasores bárbaros são efémeros,
a Europa é eterna.
M. Daedalus |